quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ELES ESCOLHERAM LOUVAR

Durante a guerra civil angolana, uma família cristã tradicional viu seu cotidiano tragicamente mudado. O terror da guerra étnica destroçava toda a nação, e o pastor adventista  Tomás, junto com a mulher e seus 5 filhos, passavam por monstruosas dificuldades.Além de todo o martírio que a guerra provoca, haviam sérios agravantes, como o encerramento momentâneo de atividades dentro da igreja, fruto da insegurança reinante,  e o ambiente caótico, onde mesmo alguns cristãos precisavam pegar em armas, fizeram do ministério deste homem e da vida de sua família algo extremamente difícil.
Muitas vezes esta dificuldade se tornou absurda. Problemas para conseguir alimentação para os pequenos, o observar temoroso e cheio de dor da morte de parentes e amigos, ganhava ares insuportáveis frente a um perigo assombroso: Por vezes as milícias buscavam recrutar crianças forçadamente (mediante seqüestro) para se tornarem soldados ou semi-escravos. Assim, não raro a até então sempre sorridente Beatriz tinha que passar dias com seus filhos escondidos no quarto em baixo de cama ou abaixados, impossibilitados sequer de oferecer uma sombra que projetasse sua presença para fora da humilde residência. Estas crianças, notadamente os mais velhos, cresceram neste cotidiano de sofrimento e incerteza, até que o pai optou por vir ao Brasil, quando  a situação assim lhe permitiu.
Apesar de pouco falarem sobre este assunto (a mãe fala muito mais do que eles), quando tocado no assunto é possível ver que em cada um deles (os que conheço da família , pelo menos) ainda persistem lembranças daqueles difíceis momentos.
Motivado pelo meu fascínio diante destas histórias, me vi obrigado a muitas vezes perguntar a matriarca sobre os acontecimentos e sobre o que faziam para buscar forçar e ainda se manterem vivos. De forma simples e calorosa como é praxe dos angolanos, ela um dia me disse : Exatamente deste modo que você está vendo...Louvando!!!....O que nos manteve foi sempre ter um louvor na boca quando possível, mas sempre, sempre um louvor no coração. Só aí fui atentar para o mistério daquela família, e pude entender de onde vinha tanta alegria e mesmo tanta reverência e superação em cantar ao mundo as maravilhas do nosso amoroso Deus. No lar dos Tomáz, todos cantam muito bem, aprendem uns com os  outros técnicas de canto muito cedo e principalmente, a gratidão diante do Eterno.
  Sempre que neles penso, me vem à mente o quanto já reclamei da minha vida e minhas dificuldades...e quanto elas são mínimas diante do que esta família passou....filhos criados ( um ainda em idade escolar) , bem encaminhados nas suas vocações ou profissões (acaso ou não basicamente na área de saúde, ou seja no exercício de salvar vidas) a vida mudou muito para eles, menos no que tange ao continuar e continuar louvando e buscando salvar almas...sempre que neles penso,e  penso no quanto já reclamei da minha vida, rogo a Deus que possa escolher a melhor parte, assim como eles e como Maria diante a visita do Messias a sua casa ( Lc 10:38-42). Que eu possa escolher a melhor parte diante dos meus próprios problemas, pois eles da família Tomáz, eles já escolheram...Eles escolheram louvar!!!

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